
Reunimos aqui personalidades que não necessariamente são cariocas, mas que marcaram para sempre a cultura do Rio, tanto que hoje compõem a sua "coleção de miniaturas em metal 1:1", vulgo mobiliário público. O nosso Mustang foi visita-las, seja para um papo informal numa mesa de bar ou uma interessante discussão literária.
Começamos nossa volta passando por um lugar de tradição musical e eis que escutamos o batuque na caixa de fósforo:
Citação:
A Vila, não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também.
Então Noel Rosa convida nosso Mustang para uma cerveja e uma cachacinha. Perguntamos se não era ainda cedo para beber e melhor comer algo. Noel respondeu:
- Trata-se de uma refeição, pois a cerveja alimenta e, quando se come, é preciso beber.
Aos Três Apitos da fábrica, nos despedimos de Vila Isabel e fomos para Copacabana.

No Leme, para quem não sabe o cantinho de Copacabana, decidimos parar no restaurante La Fiorentina, onde nada menos que Ary Barroso nos convida à mesa.

Uma vez adequadamente alimentados no Leme, fomos ao centro do Rio. Lá escutamos um solo de saxofone, um som, podemos dizer, Carinhoso. Se é choro no nome, é das coisas mais belas e felizes que nossa música já produziu; e ele marcou o gênero para sempre: Pixinguinha.

Inspirados pela música seguimos nosso caminho pelo centro e encontramos uma personalidade literária disposta autografar nosso Mustang. Antes do quase-autógrafo, perguntamos ao Sr. Bandeira, por que olhar para dentro da cidade e não admirar a vista às suas costas. Ele respondeu:
Citação:
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.
Acabamos nos esquecendo do autógrafo e em meio à conversa o erudito nos interrompe dizendo “Vou-me embora pra Passárgada”.

Despedimo-nos de Manuel Bandeira e retornamos para Copacabana, no intuito de contemplarmos o fim-de-tarde. Ali pelo Posto Seis estava o poeta Carlos Drummond de Andrade, na sua reflexão cotidiana no calçadão. Para nossa surpresa estava acompanhado de um jovem flamenguista e seu carrinho. O generoso mineiro gostou tanto do inesperado encontro com as miniaturas que nos brindou com um verso:
Citação:
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma miniatura
tinha uma miniatura no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma miniatura.

Atravessamos a Av. Atlântica e seguimos costeando os edifícios. Na frente do Copacabana Palace encontramos o colunista social Ibrahim Sued anunciando “Bomba, bomba” e “Sorry, periferia” para o dia seguinte. Ao elogiarmos sua elegância nos disse que no início da carreira tinha apenas um terno, que ficava toda a noite debaixo do colchão, para não perder o vinco. A celebridade do jornalismo posou para a foto com o Mustang e partiu para a redação do jornal.

Quem segue o calçadão de Copacabana saído do Posto Seis, fatalmente acaba chegando no Leme. Lá estava ainda Ary Barroso, a contemplar a beleza do Morro do Leme, que inspirado nos fez cantar em côro:
Citação:
Brasil
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato insoneiro
Vou cantar te nos meus versos
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio, que faz gingá
Ô Brasil, do meu amor
Terra do Nosso Senhor
Brasil!
Brasil!
Prá mim...
Prá mim...

Uma idéia conjunta do Heitor Damazio (que além de gostar de rally, toca um violão refinado) e eu, as fotos das estátuas são uma forma de mostrar um pouco do que não é só paisagem na cidade do Rio, um patrimônio cultural de diversos sotaques de nosso país. Esperamos que gostem!!
Abraços,
Leo e Heitor